segunda-feira, julho 30, 2007

Férias


















-Chegaram as férias.


Para grande parte dos portugueses isso quer dizer pouco; ou não têm férias em tempo de férias ou não têm dinheiro para gozar férias ou não têm simplesmente férias. Apesar disso, ainda existe muita gente que anseia um ano inteiro por esta época de férias.



-È em tempo de férias que muita da mais evidente estupidez humana se revela, saindo do fundo de um qualquer gavetão como o fazem as toalhas de praia e os biquínis.


-Uns correm à santa terrinha na esperança de parecerem os senhores que durante todo o ano não são. Aborrecem os tios e primos, os sogros e pais, comportam-se como se o facto de viverem na “cidade” fosse algo para todos os outros inatingível. Finalmente passados quinze dias regressam com a mala cheia de couves e batatas, amaldiçoando as moscas e trazendo na consciência que estão prontos para outro ano de trabalho árduo e servil.


-Existem também aqueles para quem as férias ideais não passam da corrida estúpida às praias algarvias. Regra geral, deslocam-se em bandos de um ou dois casais, familiares ou amigos e arrastam atrás de as crianças ranhosas, de dedo dentro da narina direita. Onde quer que passem, ou pior, que parem, existe um evidente estardalhaço de berros, pedidos de gelados e baldinhos de praia aos tombos. Já no Algarve, cozinham todas as refeições na cozinha do apartamento do costume porque é mais em conta e invadem diariamente os supermercados logo antes do almoço em busca dos enlatados mais baratos. Fazem tudo em calções de banho ou de futebol. Vestem T-shirts com frases que não sabem o que significam e jamais, JAMAIS se separam das chinelas de meter o dedo. Depois, hão-de consultar todas as “revistas dos famosos” na esperança de terem aparecido lá muito atrás e ao fundo, numa foto de um qualquer dos muitos “cromos” do nosso “jet zero” nacional. Tal como estes, também os que rumam ao sul de Espanha se apresentam nos mesmos moldes de trajadura, contenção económica e de atitude. Diferindo apenas dos primeiros, por falarem com toda a gente que lá encontrem em “portanhol” e em “espanholês” e distinguindo-se deles por acharem que estiveram de férias no estrangeiro e que isso é o mais importante.


-Um outro grupo é aquele dos que planearam férias atempadamente. Correram todas as agências de viagens, todas as feiras, vasculharam a Internet no PC dos miúdos e dois anos depois, ainda hão-de conservar grande parte dos folhetos que recolheram. Hesitaram entre Cuba, Brasil e coisas como Punta Cana, antes de pedir o empréstimo com o qual acabaram de pagar as férias do ano anterior e pagarão as deste ano. Ouviram conselhos de todos os conhecidos que por lá já passaram e que lhes mentiram com todos os dentes acerca das maravilhas que por lá viram. Desde há meses que sonham com resorts maravilhosos, com “bar aberto” e comida à fartazana. Vêm, sempre que fecham os olhos, paisagens de telenovelas com praias vazias, coqueiros e empregados submissos e atenciosos até perder de vista. Três meses antes do embarque já deram a conhecer o seu destino a todos os que os conhecem e não perdem a ocasião de falar da viagem de avião, ainda que seja a despropósito de um qualquer despenhamento de aeronave.


-À chegada, visitam os amigos e família, massacrando-os com mil fotografias e vídeos, revelando assim sem querer que do país que visitaram não conheceram nada fora dos muros que protegem os turistas da realidade.



-Mas talvez as férias sejam isto e para isto mesmo. Talvez sirvam para desligar o cérebro, em alguns casos, ou para o manter bem desligado, em outros.


-Nas férias, não são permitidas crises governativas, políticas ou existenciais. Nas férias o país é apenas cor-de-rosa ou ainda mais cor-de-rosa.


-Talvez a realidade também vá de férias este ano e se tudo nos correr bem talvez não volte.

quinta-feira, julho 26, 2007

CASTING





















-Seria no mínimo bizarro “importar” idosos incautos desde o interior do país para dar a imagem de uma multidão na celebração de Jorge Costa, mas aconteceu

-É realmente ridículo colocar crianças contratadas como figurantes nos bancos de uma escola vazia. É manipulativo, nada sério, desonesto e ridículo.

-No entanto aconteceu e ontem, o primeiro-ministro invocou, como de costume, desconhecimento e ignorância, transferindo a culpa para “uma empresa” em vez de culpar quem por parte do governo (ministério da educação ou não) tomou a iniciativa de contratar a referida empresa e de acompanhar o processo de embelezamento e mistificação da cerimónia.

-Se fosse num país a sério alguém seria demitido por tal bizarria mas num país a sério, existiria um governo a sério ou pelo menos mais sério e não coberto de ridículo.

terça-feira, julho 24, 2007

Solitário






















- A polícia Juciaria Portuguesa capturou hoje na Figueira da Foz "O Solitário" um perigoso assaltante de bancos em Espanha e o homem mais procurado nesse país. A operação foi levada a cabo em colaboração com a polícia espanhola.

-Entretanto por cá continua por capturar um assaltante nacional conhecido como "o assaltante do Taxi", por ter sido um destes veículos que apanhou como um vulgar cliente e no qual se pôs em fuga depois de cometer um assalto a uma dependência bancária.

- É apenas curioso.

segunda-feira, julho 23, 2007

LISTAS DE GREVISTAS

OU AS SEMELHANÇAS ENTRE SÓCRATES E O MARQUÊS DE POMBAL





















- Truz-truz!

- Quem é?
- O governo está em casa?
- Se é camarada pode entrar, se é algum problema, saiu agórinha mesmo!
- Humm…
- Que lhe querem?
- Que governe. Está ou não?
- Não. Saiu para a Europa e só volta para as eleições! Mas cuidado que levou debaixo do braço as listas dos que fazem greve.





-Ficamos portanto a saber que o governo não está. Que é inútil apresentar-lhe questões, propostas ou criticas. É inútil enviar-lhas por carta, por pergunta de jornalista, impor-lhas com a força da democracia representativa e plural ou de um varapau de marmeleiro. É nada enviar-lhas em bandeja de prata com rodelinhas de laranja à volta e raminhos de salsa. Não está e pronto.




-O Estado, não interessa se é rico ou pobre, não interessa quanto de fausto apresente, de forças em missão no exterior, de capacidade de acolhimento de refugiados ou de diplomatas. O Estado não dá nada a ninguém porque o Estado não tem nada de seu e tudo o que tem é nosso. O Estado não tem nem pode ter nada, nem bens, nem opiniões, nem ideologias. O Estado tem funções e mais nada.
-Sempre que um Estado enriquece a comunidade empobrece e é roubada, porque ou os seus impostos foram aumentados ou os seus direitos e serviços foram diminuídos. Não pode existir qualquer troca dos cidadãos com o Estado porque o Estado não pode nem deve nunca visar o lucro mas antes o bem-estar dos cidadãos.
-O governo representa o Estado e o Estado é um aparelho, não é uma individualidade e o representante desse aparelho é um governante. Um governante é a mais pequena de todas as coisas que um homem pode ser. Serve apenas para servir e jamais para cultivar a sua personalidade ou para a impor ou para se servir do seu cargo em favor de si ou dos seus.

-O governo Pombalino (e mais tarde o de Salazar), conseguiu através do terror inspirar uma catástrofe que se chama obediência geral e onde existe obediência existe repressão e diminuição de dignidade. Onde existe liberdade não existe jamais obediência e sim acordo. O povo que obedece fá-lo por temor e não por concordância.
-Sebastião José de Carvalho e Mello não passou sem méritos para a história, mas não passou também sem o rótulo de cruel ditador que arrastava atrás de si o Tribunal da Inconfidência e os nomes apontados pela Intendência de Policia.
-Também hoje parece voltar a querer existir o predomínio do Estado sobre o indivíduo, reivindicando o primeiro (o Estado) para si, velhas tiranias autoritárias e todos os direitos que as leis conferem ao Povo. Isto é característico de reformadores em terceira mão, de políticos sem ideias próprias e sem rasgo de talento, carácter ou génio.
-Nesses tempos o Marquês mandava (apenas porque podia) fundar a Real Mesa Censória. Por cá e agora calam-se os discordantes com processos-crime por difamação.
-Nesses tempos, a Intendência de Policia fazia listas de discordantes. Agora e por cá, fazem-nas os serviços públicos e a PSP que fotografa manifestações de trabalhadores.
-Na altura O Marquês de Pombal foi nomeado na sequência de um terramoto. Por cá e agora o terramoto é a própria governação, a perda de direitos, de qualidade de vida, a imposição do autoritarismo e este disfarçado modo de perseguir os discordantes.



-Então, tal como agora, o governante proclamava as benfeitorias por si alcançadas.


-Em 1871, o Marquês de Pombal exclamava: “Agora é que Portugal vai à vela!”; No preciso ano em que James Whatt descobria a aplicação do vapor.

sábado, julho 21, 2007

quinta-feira, julho 19, 2007

José Saramago " O Unionista Ibérico"

















José Saramago


-O romancista, poeta, dramaturgo, autodidacta José Saramago (Premio Nobel da Literatura em 1998), ribatejano, ateu, recém-casado e comunista tem como opinião que Portugal deveria tornar-se uma província de Espanha.

-Até aqui nada de especial, na realidade J. Saramago tem todo o direito a ter as suas opiniões por muito estranhas ou senis que possam parecer. O senhor (a quem muito admiro a escrita) nem sequer é surpreendente ou original. Já antes dele muitos outros idiotas que nem premiados foram jamais, tiveram destas opiniões, lembro por exemplo o Conde Andeiro. Original seria, caso exprimisse o desejo de que nos tornássemos província do Zaire, da Colômbia, ou do Vietname, mas Espanha… ?
-A este respeito recordo outras barbaridades proferidas pela eminência parda dos pseudo cultos nacionais que tendem e teimam em confundir a obra literária do homem com o próprio homem, sendo que uma e outro são coisas de valor bem diferente. Muitas têm sido as entrevistas de Saramago que tenho considerado excelentes. No entanto, outras tantas muitas, foram as que eu preferiria que ele tivesse mantido em si o mínimo bom senso. O homem é brilhante quando discorre acerca da sua vida, de sentimentos e de ficções mas sempre que lhe “foge o pé p’rá chinela” espalha-se ao comprido.
-Saramago, não é aliás o único que quando se presta a sair fora da sua área de conhecimentos atropela elefantinamente o bom senso. Pedro Abrunhosa, Mário Soares, Almeida Santos e um incontável número de “famosos”, deveriam respeita-nos o silêncio muitas vezes.

-Por outro lado haveria que perguntar aos nossos vizinhos ibéricos se estariam interessados em nos ter como seus patrícios. A resposta, parece-me bem que seria negativa, se nos podem colonizar economicamente para que quereriam dividir o que quer que fosse connosco?

-Gosto de nuestros irmanos tanto como gosto de qualquer outro povo, admiro-lhes a cultura, a historia e admiro-os a eles enquanto povo, mas não os invejo ou pretendo ser como eles são, nem desejo que sejam eles outra coisa que não espanhóis. Para além disto recomendo vivamente a José Saramago (romancista, poeta, dramaturgo, autodidacta, ribatejano, ateu, recém-casado, comunista, Premio Nobel, Iberista e homem) que se recorde do dito popular: “Quem te manda ti sapateiro tocar tão mal rabecão”.

segunda-feira, julho 16, 2007

AVISO: LIBERDADE DE OPINIÃO
























Advertência:

-No caso de sentir náuseas, tonturas, tremores, palpitação ou outro tipo de sintoma adverso pare imediatamente de ler este ou qualquer outro post. Caso os sintomas persistam, consulte imediatamente o seu médico, levando consigo uma cópia da postagem do blog, e indicação do link.

-Pessoas com historia clínica de criticófobia assim como: seguidistas, aduladores, delatores, bufos, ressabiados, lambe-botas, queixinhas, carreiristas, merdosos, aparelhistas e governantes que sejam prepotentes e/ou arrogantes não devem ler este blog em nenhuma circunstância pois têm-se verificado casos de desenvolvimento cerebral neste tipo específico de indivíduos.
-O autor não se responsabilizo em circunstancia alguma, por possíveis consequências no caso de algum amigo ou colega de trabalho o denunciar ao seu superior hierárquico por ser leitor habitual deste blog, ou por qualquer efeito de suspensão, investigação, inquérito interno, processo cível ou queixa-crime que se relacione com o referido acto de leitura.
-Assista com cuidado e sozinho aos conteúdos. Não os divulgue, excepto no caso de o fazer junto de alguém da sua inteira confiança e ainda nesse caso refira-lhe todas estas recomendações para bem de ambos.
-No caso de pretender deixar um comentário identifique-se apenas como anónimo ou use um pseudónimo ao qual não seja possível determinar a origem ou a real identidade. Em todo o caso, qualquer comentário será da responsabilidade exclusiva do seu autor.
-Jamais procure uma junta médica, pois os efeitos que a leitura deste blog possa provocar não são legalmente admissíveis para a obtenção de pensões ou reformas antecipadas e ainda que o fossem por decisão da referida Junta, alguém superiormente colocado, haveria de alterar o teor da referida decisão por recomendação superior.

-No caso de observar TODAS estas condições e normas internas, sinta-se “LIVRE” de ler e de comentar tudo o que aqui se encontre.

-Caso contrário faça exactamente o mesmo em nome da LIBERDADE DE EXPRESSÂO E DE OPINIÃO!!

sábado, julho 14, 2007

Sócrates Vs. Hipócrates - Filosofia e Politica à portuguesa





















HIPÓCRATES NÃO ERA SOCRÁTICO
MAS SÓCRATES É HIPÓCRITA !!

sexta-feira, julho 13, 2007

terça-feira, julho 10, 2007







NOVO ELEMENTO QUIMICO DESCOBERTO POR CIENTISTAS PORTUGUESES: O GOVERNÈSCIO





















-Não possui protões ou electrões.

-Possui um Primeiro Neutrão, 16 ministros neutrões, um número indeterminado de secretários e sub-secretários neutrões e uma enormidade de chefes de gabinete, assistentes, secretarias e acessores neutrões, o que lhe confere uma massa atómica de p’raí ou mais. Os neutrões mantêm-se unidos por uma contínua corrente de partículas que se chamam Influencius Patéticus.

-Não possuindo electrões deveria tratar-se de um elemento inerte, e na realidade é-o na maioria das situações, reagindo apenas quando criticado ou vaiado. Um dos investigadores notou que uma ínfima quantidade desta substancia quando introduzida num país como o nosso, provoca um atraso razoável no desenvolvimento e nas condições de vida em geral.

-O seu período normal de vida é de quatro anos, mas logo ao segundo ano entra em forte decadência arrastando o que o rodeia nesse processo. Entre vários dos seus neutrões ocorrem por vezes trocas numa espécie de reorganização que em nada altera as características do elemento.
-Trata-se de um elemento que existe abundantemente, tendendo no entanto para se concentrar na área do Terreiro do Paço em Lisboa, nos edifícios dos diversos Governos Civis, Escolas que ainda existam e hospitais que não fecharam.




ATENÇÃO: Governéscio é considerada uma substância perigosa qualquer que seja a dosagem ou exposição. Causa danos na saúde, na Educação, na Economia e Finanças, Justiça, Cultura bem como aparentemente na Liberdade de Opinião e de Expressão

sábado, julho 07, 2007
















Portal do Governo


(Faça clique sobre a imagem)




-De acordo com o PROGRAMA COMPLEX foi anunciada, logo após o ultimo Conselho de Ministros, a criação de um novo portal institucional: o “bufo.gov.ps.pt”. Este novo projecto insere-se na área das novas tecnologias de comunicação e será desenvolvido no âmbito dos protocolos estabelecidos com a Microsoft e com o MIT que tantos frutos têm dado. Os destinatários serão (segundo o comunicado oficial) todos os cidadãos que pretendam denunciar situações que de um qualquer modo sejam atentatórias ou que possam prejudicar o nome de qualquer outro cidadão que seja membro do actual governo, dos seus “afilhados”, amigos, protegidos, nomeados ou amantes.



-Neste novo meio de denúncia agora disponibilizado, existirá um espaço específico para militantes da Juventude Socialista no qual os jovens promissores delatores poderão de modo facilitado, denunciar desde comentários acerca da sexualidade do primeiro-ministro até à existência de fotos de mulheres nuas nos placards dos centros de saúde ou de emprego. Como modo de incentivar a utilização deste novo sistema, será sorteado a cada 100 denúncias, um lugar de acessor ministerial em ministério a anunciar oportunamente.



-O In-Provavel, teve acesso a algumas das denúncias já recebidas durante o período experimental que aqui reproduzimos:





José Canto dos Cantos

19 Anos, Estudante.
Braga
“ O meu profeçor deu-me negativa a Protugues por eu ser do PS e eu não mrecia. Ele comcertesa é dos outros.”




Raquel Vanessa

17 Anos, Líder estudantil.
Amadora
“Os meus pais contam anedotas acerca do curso de engenharia do Senhor Primeiro-Ministro, além disso reduziram-me a mesada desde que me apanharam a fumar um charro com o meu namorado.”




Miguel Bernardes Carapau

43 Anos, Frequentador de Centros de Saúde.
Bobadela
“Na quinta-feira foi ao médico e ele escreveu a receita com uma caneta côr-de-laranja, além disso recusou-se a dar-me baixa por causa da minha bronquite. Para mim o tipo é comuna.”

sexta-feira, julho 06, 2007

Vergonha Nacional





















Professor obrigado a dar aulas com cancro da laringe

-Mário Fernandes João Lucas testemunha o sentimento de 'indignação' e 'incompreensão' de toda a comunidade escolar perante o caso do professor Artur Silva. Após mais de 30 anos de serviço, o professor Artur foi traído pelo cancro. Ficou sem a laringe e só falava, com grande dificuldade, através de um aparelho. Mesmo assim, foi-lhe recusado o pedido de aposentação e até uma junta médica o deu como apto. Mas os alunos acabaram por não ouvir qualquer aula ao som da sua voz robótica. O professor morreu no dia 9 de Janeiro.
-Este é o segundo caso conhecido de uma aposentação negada a um professor doente. Em Junho, uma professora de Aveiro, de 63 anos, a quem tinha sido diagnosticada uma leucemia, morreu sem que lhe tenha sido concedida a reforma. Na Escola Secundária Alberto Sampaio, em Braga, o ambiente é agora de “revolta e indignação”. Alunos, professores e auxiliares mostram-se “perplexos” com “as respostas inacreditáveis do sistema público a um caso dramático como este”, conforme desabafou ao CM o presidente da assembleia de escola, João Lucas, recordando os últimos dias de sofrimento do professor de Filosofia. Com um cancro na garganta, Artur José Vieira da Silva teve de se submeter a uma “amigdalectomia esquerda e laringectomia total com esvaziamento ganglionar cervical funcional bilateral e traqueostomia permanente”. Com “ausência total e irrecuperável da voz”, o professor de 60 anos pediu a aposentação.O caso foi avaliado por uma junta médica, a 18 de Abril de 2006, sem que o paciente tivesse sido convocado. A 9 de Maio – e apesar do que consta da Tabela Nacional de Incapacidades – o professor recebeu o veredicto de que nada o impedia de exercer as suas funções. Artur Silva apresentou-se na escola e só ficou livre de actividade lectiva porque o ano já se encontrava no fim. No início do ano lectivo “ainda participou nas reuniões preparatórias, mas as suas dificuldades eram óbvias”, reconhece a presidente do conselho executivo, Manuela Gomes. Artur Silva ainda escreveu uma carta ao director da Caixa Geral de Aposentações, em Setembro, mas o pedido voltou a ser indeferido. Três meses e meio depois morreu.

In Correio da Manhã

quarta-feira, julho 04, 2007

Festival, festivais / Festival de Festivais



























-Pronto, eis então que quase de repente começa tudo de novo.

-Como todos os anos, todos os Verões, a habitual praga está de volta. Quase sempre começa devagar e timidamente ainda na Primavera. Primeiramente são as “Feiras do Livro” de Lisboa e Porto e as milhentas réplicas pelo país inteiro. As “gentes” afluem em peso e desmedidamente, passeando por entre as barracas, desfolhando, fingindo que lêem, que sabem, que gostam e até que tencionam comprar. Outra parte aproveita a frescura do fim do dia e do início da noite para apenas passear por lá entre encontrões; Como se o simples facto de se arrastarem entre barracas repletas de livros, lhes transmitisse o conhecimento que lhes falta. Benditos sejam, dizem de todos eles, os livreiros.
-Antes, já houvera a feira do chocolate, a da castanha, a da noz, a do fumeiro e outras onde a multidão se apresenta na expectativa de tirar a barriga de misérias, no que às coisas boas diz respeito. Sempre com a falsa expectativa de preços mais em conta ou de amostras gratuitas. Pobres crédulos. Benditos sejam todos, dizem em coro os produtores.
-Mal o Verão ameaça, aparecem então os festivais de rock. Primeiro dois: um em “Cascos-de-Rolha” e outro em “Cú-de-Judas” de quem ninguém nunca ouviu sequer falar. Depois multiplicam-se, juntam-se-lhes os de música Celta, música Árabe, de Flamenco, de música Clássica, de Jazz, world music (?), guitarra, cavaquinho, pífaro e mais seis dúzias de festivais de rock nos cinco cantos do país. Milhões de decibéis, toneladas de poeira, toneladas de charros; Tudo patrocinado por uma das duzentas espécies de cerveja anunciadas por um ex-futeboleiro qualquer.
-Chegamos até ao ponto em que não existe térrinha que tendo (ou mesmo não tendo) um castelito qualquer, não erga tendas e panos para um “Festival Medieval”. Assim, depois de nos tirarem os Euros e nos darem em troca umas patacas que nada valem, podemos observar aqueles sofríveis cavaleiros mal trajados, sobre umas miseráveis pilécas a cruzarem espadas num péssimo travestismo de combate mediévico. Quase tudo é ali ridículo: as vestimentas dos figurantes calçados com sapatilhas Nike, os tasqueiros ao telemóvel, as espadas de lata e os bobos, que são os únicos que (embora sem ponta de graça) cumprem o seu papel; eles e as bostas que podem ser pisadas gratuitamente.
-Outra destas verdadeiras pragas de Verão são os festivais de comes e bebes. Não há paparóca nem beberagem que não possua o seu “festivaléco”. Já aqui referi o do chocolate, mas que dizer dos de cerveja, francesinhas, sopas, cerejas, açordas, caracóis, tripas, sardinhas, caça, omoleta, queijos, sorvete, feijoadas, chicharro, enguia, cabrito, blá, blá…
-Famílias inteiras e grupos de alarves amigos, para lá se dirigem. Pagam para entrar ou pagam caríssimo, aquilo que tem todos os dias oportunidade de devorar. Depois comem, comem já frio quase sempre e com cobertura de poeira e imundice. É quase zoológico vê-los a mastigar de boca aberta ou a sorver líquidos com a habitual banda sonora e no fim, o tradicional arroto que tanta gargalhada faz soltar. Benditos sejam, dizem os organizadores que apenas comem em casa.
-Festivais de artesanato, que eu conheça, são mais de mil. Na grande parte deles aquilo nem artesanato é. É comércio puro e duro à mistura com mau gosto, oportunismo e falta de bom gosto.

-Existem mais, muitos mais exemplos, como por exemplo os festivais de folclore, fogo de artifício, velharias, bandas filarmónicas, gaiteiros, tocadores de bombos, caça, pesca, grupos corais e até um que se chama “Multiusos”.


-Benditos sejam todos, digo eu.