sexta-feira, outubro 30, 2009

Por nada…

Julia Calçada História sem páginas-Oleo

As pontes de regresso a casa colapsaram; o futuro esbatera-se sob cores novas e as antigas empalideceram a cada raio de luar de cada nova noite. Tinha morrido o ultimo vislumbre do sonho, da sua ingenuidade e já nem a sua amarga inteligência lhe servia de refúgio. A sua única quinta-essência desaparecera sem rasto ou razão e era tudo o que ligava a um tempo perdido.

Não conseguia sentir dor alguma que não fosse física e estava tão longe no caminho do sofrimento que nem o ponto de partida lhe era uma memória palpável. Temia ter-se tornado numa espécie de monstro; um ser pendente entre o imoral e o amoral. Fóra do mundo ou sem correspondência com ele, sem reconhecimento dele e sem a sensibilidade necessária para viver nele.

Convivera sempre com os seus sentimentos mas sem os conhecer. Pelo menos de um modo exaustivo. Analisara-os sempre, autopsiava-os a cada passo e como quem esventra uma rã para lhe distinguir os detalhes anatómicos e a mutila a cada movimento, fizera-o a tudo o que sentira até ali. Era esse o procedimento que lhe permitia conservar a sua dignidade, juntamente com as suas ideias, a sua imaginação e as memórias, já que nunca confiara nas fruições tácteis ou nas palavras alheias.

Já tivera tantos reinícios na sua vida que qualquer hipótese de um reinicio qualquer era uma hipótese obscura e evitável, como se uma ferida por cicatrizar lhe mantivesse a convalescença sentimental em chagas vivas sob um emaranhado de ligaduras. A dor tinha tido escalas, mas a carne era sempre a mesma carne e a sua teimosia quase pueril em ignorá-la acabara por levar a melhor.

Olhou as horas e com um esgar desligou o computador e jurou nunca mais repetir o mesmo erro… novamente.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Redes sociais I

REDES  SOCIAIS - SOCIAL NETWORKS  IN-PROVAVEL

Ainda não entendi muito bem esta necessidade extrema que todos os habitantes da Internet parecem possuir de participar naquilo a a que se convencionou chamar “Redes Sociais”.

A algumas não entendo a utilidade, a piada, o objectivo ou a ideia que presidiu à sua criação. É o caso do “Twitter”. Enviar recadinhos minimizados e quase merdosos acerca do que se pensa ou faz a cada momento é além de redutor em termos de mensagem, uma parvoíce destinada a quem não tem nem vida social “in vivo” ou a que tendo-a, procura interrompe-la a cada momento declarando sensações que sendo suas não me interessam a mim.

Outras, como o hi 5, destinam-se aparentemente a pré-adolescentes, adolescentes e recém pós-adolescentes que por falta de amigos e telemóvel carregado pelos papás vão colocando fotos parvas q.b., em troco nú ou poses estranhas e deslocadas, a par com figurinhas que piscam como colares de lantejoulas Kitsch e pindéricas.

Confesso que tive e que se auto-mantêm um twitter e um Netlog; tenho conta no YouTube, no Msn e tenho um Facebook que uso e que visito com alguma regularidade.

Ao hi5 abri-o a pedido do filho de um amigo que queria ter amigos no seu hi5. Depois permiti de modo totalmente imbecil, que se tornassem amigos e amigas (risivél não é ? esta noção de amizade) toda uma cambada de gente simpática que não conhecia, não conheço e não tenciono conhecer nunca misturando-os com algumas pessoas que realmente aprecio.

Com o FACEBOOK aprendi a lição e não peço nem concedo o titulo de amizade a quem mo pede apenas porque sim. Não permito que desconhecidos permaneçam desconhecidos com título de “amigos” ou façam parte da minha lista de amizades.

Tenho os meus limites, as minhas condições (que não divulgo) para aceitar amigos/as e não entendo nem aceito como outras pessoas o fazem. Não é minha intenção realizar autenticas colecções de nomes de pessoas e fotos no meu facebook nem em outro qualquer local. Considero uma imbecilidade possuir-se uma rede de contactos com desconhecidos por que esses são exactamente isso apenas: DESCONHECIDOS ou apenas vagos conhecidos; do mesmo modo que não privo com o senhor Raul, com quem falei uma vez no metro na vida real, não é minha intenção privar com ele na net.

Não coleciono contactos no MSN, não procuro ninguém não uso ninguém e não me tornarei uso de quem quer que seja, não bloqueio e se o fizer terei as minhas razões para o fazer que certamente preferia não ter. Mas jamais manterei um contacto com quem quer que seja ou fornecerei o meu por básicas futilidades.

Já não tenho, nem tive nunca, idade ou vontade para tricas, “contos & ditos”, manobras de faz de conta, para me imiscuir na vida dos outros ou para permitir que o façam com a minha. Não tenho paciência para ter e exibir ídolos de barro para que outros os vejam. Os meu perfis são públicos e abertos para todos, enquanto o merecerem e fechados para os que deixaram de o merecer.

Não tenho clubes de fãs nem farei parte de nenhum!

domingo, outubro 25, 2009

Novo Governo, Novos ministros, tomada de posse – Socrates - “Os Substitutos”

SOCRATES, NOVO GOVERNO, NOVOS MINISTROS TOMADA DE POSSE IN-PROVAVEL - OS SUBSTITUTOS

Mais um grande filme para distrair e continuar tudo na mesma ou quem sabe pior ainda?

O público cinéfilo anda distraído, é um facto. Mas será realmente idiota ao ponto de comprar bilhete para uma repetição de um argumento estafado, apenas com alguns actores novos e já sobejamente vistos?

Desta vez o anti-herói não prometeu 450 mil empregos e optou pela intenção de dialogar a todo o custo, contra todos se for necessário e por cima de todos, se lhe for possível. Uma história de robots comandados por um boneco de lata com fatos elegantes uns deles retirados do ferro-velho, outros reciclados à pressa da sociedade civil e do "serventilismo" politico da oportunidade declarada de “ir a ministro”!

Tecnicamente, este filme não apresenta planos interessantes ou não se lhe conhecem os planos… poderia ser uma história de navegação à vista nos mares minoritários da negociação e da negociata, pois os piratas não faltam e já se conhecem bem. A fotografia é pobre de cores e de espírito.

De lamentar, a não inclusão no elenco de alguns dos cómicos a que já nos tinham habituado com os seus disparates diários e medidas hesitantes e avulsas ao sabor da corrente e do economicismo básico sem resultados.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Novo Governo – Outra Aventura

 

novo governo in-provavel

Acabou o “Tabu”.

Terminaram as cogitações, as meras hipóteses, as indefinições, os convites e recusas; os contactos e as conversas de bastidores.

Há governo. Melhor, volta a haver hipótese de haver governo.

O país real (apesar de sermos uma Républica) regozija e o país politico agita-se.

Depois de ter vencido as eleições José Socrates, em versão dialogante, já conseguiu reunir nomes suficientes para formar um Governo e tentar agradar a Gregos e a Troianos. Infelizmente temo que continue a desagradar aos portugueses.

Este será, sem duvida alguma, um governo de conciliação e pelo que já se pode observar, concilia os incompetentes do costume com outros novos incompetentes; Os oportunistas do costume com novos oportunistas, “caceteiros” com “arrivistas” e as desculpas do costume com as mesmissímas desculpas, mas agora vindas de pastas governativas diferentes e de diferentes imitações de céreberos e princípios. Por outro lado nota-se-lhe um esforço para conciliar tendências internas do partido socialista, algumas delas são até tendências politicas favoraveis ao primeiro ministro, imagine-se.

Temos uma pianista na Cultura, uma Pássaro no ambiente e uma inventora de histórias na Educação o que desde logo permite concluir que a Cultura continuará “piano”, o Ambiente a voar a olhos vistos e bicadas dadas e que a Educação continuará a primar pela imaginação e aventureirismo.

terça-feira, outubro 20, 2009

Chuva dentro de mim

chuva in-provavel

Houve um tempo em que gostava de chuva. Apreciava-lhe o toque, a frescura, o som ritmado, quase doce no telhado. Via com agrado os desenhos das gotas nas vidraças, os reflexos das luzes nas poças das ruas, o brilho dela de encontro aos candeeiros e aos neons.

Cheguei a caminhar, no Verão, por entre as suas gotas ou através delas, alegremente ensopado no cheiro da terra húmida ou do asfalto. Costumava passar à janela longos minutos apenas a vê-la cair, vertical e lisa umas vezes, ondulante e pesada outras, a acompanhar o vento. Saudava as nuvens plumbeas (quase negras) que a traziam, como quem saúda velhas amigas bem-vindas num regresso. Elogiei-lhe a obscuridade com que aconchegava as coisas feias dos dias curtos de Outono e Inverno. Cheguei a escrever-lhe elogios sinceros, a tratá-la como algo de belo que a natureza distribuísse generosamente.

Agora… a chuva irrita-me. O seu ruído assemelha-se-me a marteladas ininterruptas que me privam do descanso e da paciência. O seu toque tornou-se-me vil e asqueroso; O brilho desprezível que faz no chão das praças, mais me parece o de um espelho disforme e lamacento. Turva a luz das janelas, distorce a beleza e torna amorfos os sentidos.

Impede-me de ver, de ouvir e de pensar ou força-me a pensar no que não quero que seja pensado. Traz-me recordações que não tenho de ocasiões que não vivi mas que desejei. Impede a luz de chegar, torna mais feia a realidade feia, molha-me os sentidos e os olhos

Por mim, a chover que chova longe de mim.

Se me dizem que é necessária respondo que não sou hortelão nem guarda-rios.

Se há seca em Cabo Verde que chova lá até à saciedade dos afogados mas não aqui. Se os rios vão secos que chova nos seus leitos; lá mas não cá.

Se é necessário vender guarda-chuvas, que se usem como sombrinhas para tapar o sol.

segunda-feira, outubro 12, 2009

DESILUSÃO

















-Há dias tive uma conversa ocasional acerca da desilusão e ainda não esqueci algumas das coisas que nela disse e ouvi.


-Afinal, a desilusão só existe por oposição à ilusão. Só pode existir se antes tivermos sido iludidos, se nos deixámos iludir ou (pior) nos tivermos iludido a nós próprios de um modo qualquer.

-Quando olhamos para trás, ainda que para um passado próximo e concluímos que aquilo que existia, o que era único e diferente todos os dias, se desvanece a cada dia novo deixando no seu lugar uma ferida insanável durante um tempo indeterminado… estamos perante a desilusão.


-Nessas alturas, tudo o que fazemos é dúplice: possui dois aspectos, dois formatos, duas facetas como uma mesma moeda vista de apenas um lado de cada vez. Afirmamos que não havia afinal para connosco ou em nós, nenhum dos sentimentos que antes víamos com toda a clareza, mas simultaneamente recusamos acreditar que assim fosse e temos todas as razões da lógica para o fazer.

-Alternamos entre uma afeição profundíssima e uma imitação de ódio que nos impomos sentir como couraça contra os outros sentimentos. Somos ora esperançados, ora desesperados e passamos de um estado a outro sem qualquer sinal definível, sem a necessidade de um “click”, sem querer e sem pedir desculpa.


-A desilusão não é uma faca que golpeia e mata , como dizem os poetas. É uma faca de dois gumes , encurvada, com serrilha, lima, lupa e saca-rolhas… Não golpeia apenas, amplia, dilacera, esmaga, retorce os nervos, os músculos, os pensamentos todos e infecta com o vírus da tristeza, a bactéria da saudade e a gangrena do sentimento de perda.


-Porque falei disso hoje quando as eleições autárquicas foram ontem? Porque a desilusão de uma só pessoa é mais importante do que todas as ilusões criadas em cada acto eleitoral e porque me apeteceu e posso.


sexta-feira, outubro 09, 2009

AUTÁRQUICAS 2009














"Que Deus tenha piedade e os portugueses vergonha."

sexta-feira, outubro 02, 2009

Uma Lady no Parlamento Europeu, uma louca na Camâra

Untitled - 8

Para desgraça minha e do que me resta de fé em alguma da humanidade, no dia anterior ao de ontem vi e ouvi o debate entre os candidatos à Câmara Municipal do Porto, na SIC.

Talvez devesse dizer: “debate entre Rui Rio e os restantes candidatos, pois foi isso o que aconteceu.

Quanto a Elisa Ferreira conseguiu (na minha opinião) comportar-se de tal modo, que apenas não me desiludiu profundamente por nunca me ter iludido minimamente.

Desde o inicio interrompeu constantemente todos os outros intervenientes, num exercício de rudeza e vulgaridade não raros em debates políticos, mas sempre profundamente reprovável. Nem sequer os pedidos do moderador, a par com as chamadas de atenção surtiram qualquer efeito ou acordaram nela as regras do civismo televisivo, da básica educação que deve ter também lugar na actividade politica ou o menor traço de bom senso.

A “senhora”(*) insistia em boicotar as afirmações de TODOS sem excepção e pretendia tornar-se “dona da bola argumentativa”. Um espectáculo triste, a raiar a má educação e a ultrapassá-la demasiadas vezes.

Talvez ainda não tenha havido quem lhe tivesse feito ver que “tem razão que a tem e quem a bem explica e não quem a quer ter”.

Pouco revelou da suas intenções para com a cidade a não ser vagas referências generalistas e sem detalhe que lhas credibilizasse. Esteve apenas e sempre apostada em falar, sem nada dizer, criticar sem nada propor e exibir-se sem ter que mostrar.

Não lhe ouvi uma só palavra acerca da sua permanência na edilidade, no caso de não ser (que aos portuenses livre o canhoto!) eleita presidente da Câmara.

Nesse caso, a cidade já não seria tão importante. Para ela é presidente de câmara (só) ou deputada europeia. Tem assim, como qualquer “bom malandro que se preze”, ambos os pés bem assentes no ambicioso estrume da carreira politica.

A “senhora” (*) que me desculpe, mas de si não voltarei a dizer mais nada.



(*) – O uso de aspas é totalmente intencional.